Tenho cinco pares de
tênis. Não que eu precise de cinco pares de tênis. Afinal, só posso usar um par
por vez. Mas todas as vezes em que vejo tênis parecidos com os meus, fico com
vontade de comprá-los e mais que isso, me sinto rodeada dessa vontade por
alguns dias, até que consiga esquecer os tênis e ter vontade de comprar uma
outra coisa. Vivo pela necessidade de possuir as coisas, geralmente coisas das
quais não preciso, assim como grande
parte da população. Somos consumidos pelo consumismo.
Marcas, preços,
parcelas de pagamento, lojas, essas são as coisas que nos fazem estudar durante
mais de 15 anos e trabalhar durante mais de 30, sem nem questionar. Ficamos
cansados, irritados e muitas vezes, nem mesmo gostamos daquilo que fazemos, mas
continuamos fazendo, para em algum momento do mês, pagar as contas e comprar
as tão sonhadas coisas das quais não necessitamos. Mas, de verdade, não acho
que isso seja completamente nossa culpa.
Vivemos o tempo da
internet, onde ter um celular no bolso e uma televisão em casa é algo
corriqueiro. Por isso mesmo é que estamos tão sujeitos à manipulação. A propaganda
está lá, nos programas televisivos, nas redes sociais, nas roupas dos artistas,
até nas promoções. Está infiltrada no mais profundo do inconsciente,
praticamente desde o dia em que nascemos. Ela nos impele mais e mais a cada
dia, a digitar a senha do cartão de crédito.
E as estratégias
de propaganda só evoluem. O que antes era claro, óbvio, mostrando o produto
como algo a ser comprado, oferecendo
descontos, hoje é completamente subjetivo. Você não precisa comprar, não
vai ter desconto, não sabe o valor do produto, mas deveria pesquisar sobre
ele, descobrir onde pode comprar e ir até esse local logo, pois com certeza será mais feliz, bonita e bem sucedida se fizer isso.
Qual o tamanho do
absurdo? Comprar um vestido de 500
reais, feito do mesmo material de um vestido de 100, por conta do nome na
etiqueta, ou comprar um vestido de 100 quando você possui outras dezenas de
vestidos novos? Fazemos os dois. Mais que manipulados, nós abraçamos o
consumismo, aceitamos a ilusão de necessidade dos produtos e valorizamos as
marcas. Afinal, se não comprarmos, fazendo uma propaganda indireta, o produto
tem seu valor de mercado reduzido, é a lei da oferta e da procura. Nós fazemos
das marcas o que elas são, não o contrário.
O mais preocupante
da situação é que estamos presos num ciclo vicioso. Somos impelidos a comprar
porque temos a sensação de que aquilo que possuímos não é o bastante, está
ultrapassado, precisa ser substituído. E é exatamente essa a intenção. O
mercado quer que seu produto seja algo frágil e ultrapassado, ou ao menos, que
você pense nele dessa forma. Lançam versões supostamente atualizadas, mas que
são quase iguais ao que você tem em casa e te fazem comprar aquele produto, no
pensamento de que ele vai realmente fazer a diferença na sua vida. Seis meses
depois, a mesma coisa.
Vivemos num mundo
onde trabalhar para comprar e comprar para ser feliz é regra, quase um lema do
subconsciente. Afinal, é isso que constitui o capitalismo. É essa vontade de
possuir, essa necessidade de trabalhar para possuir que move nossa sociedade.
E talvez seja uma das coisas mais difíceis de fazer, mas
conter essa necessidade de compra, pensar sobre o custo e os reais benefícios
que aqueles produtos podem te trazer, muda sua visão da vida, ao menos um
pouco. Ser um comprador consciente pode te fazer não só economizar, mas
perceber o ciclo vicioso em que vivemos, perceber que trabalhar de forma exacerbada
e infeliz para ter poder de compra não é algo saudável.
Ser compradores conscientes poderia, então, finalmente mudar
nosso lema para algo minimamente diferente de “trabalhar para comprar e
comprar para ser feliz”. E isso, mesmo que “minimamente” não inspire confiança,
já causaria uma mudança considerável naquilo que somos e na forma como nos
comportamos em sociedade.
Beatriz T. Figueiredo
Evito mesmo conjugar o verbo "comprar". Rsrs Parabéns pelo texto consistente.
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