Em meio a nossa
discussão político-social, por estarmos todos ainda em fase de adolescência,
mas principalmente para mostrar opiniões de outros brasileiros que compreendem
e vivem há mais tempo esse mundo capitalista, se torna necessária uma
entrevista. Nossa intenção foi elaborar perguntas relevantes, tanto para vocês,
nossos leitores, quanto para incitar os entrevistados. Da mesma forma, a
escolha dos entrevistados foi feita cuidadosamente, de acordo com sua
disponibilidade e claro, sua ocupação profissional.
Com essas considerações, segue a nossa entrevista.
Sr.Isaías de Carvalho - A crítica faz sentido, mas é hipócrita ao mesmo tempo. Faz sentido, pois o PT foi levado ao poder com agrande esperança de que daria novos rumos éticos à política e à governança nacional, o que não ocorreu. A hipocrisia de quem faz essa crítica contundente é a de que estão todos em um sistema organizado para facilitar a corrupção, não cabendo o extermínio específico do PT e de seus ideais.
Os nossos entrevistados
foram o Sr. Paulo Roberto Maciel Teixeira, funcionário aposentado do Banco do
Brasil e produtor agrícola, e o Sr. Isaías Francisco de Carvalho, professor de Literaturas Anglófonas na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).
Com essas considerações, segue a nossa entrevista.
1-Você achou justo o
impedimento da presidente? Por quê?
Sr. Paulo Roberto Maciel - Não, pelas razões
alegadas e muito menos pelos atores atuantes
para o desfecho: Cunha e Jucá notórios implicados em várias fases da
lava jato e cúmplices de Temer que alçado pela segunda vez ao cargo de vice, sem ter luz própria quis
subir mais um degrau participando de um
acordo em que esqueceu a ética. Se fosse por outro motivo, por exemplo falta de
controle com seus Ministros que em boa parte viraram as costas, poderia ter
outra opinião.
Sr.Isaías de Carvalho - Claramente, foi injusto. A lei do impeachment não foi
aplicada de modo juridicamente justo. Os crimes de que a presidenta é acusada
não são de ordem para impeachment. Apesar de Dilma Roussef se encontrar
impopular e de vivermos uma grave crise econômica, o presidencialismo não se
presta a esse tipo de manobra golpista, em que a oposição, o legislativo, a
grande mídia e alguns desvios do Judiciário orquestraram uma tomada de poder
por via indireta. Após anos de sabotagem e enfraquecimento da presidenta, conseguiram
encaminha o processo de impedimento, que ainda pode ser revertido, o que seria
justo.
2- O que você espera
do governo atual?
Sr. Paulo Roberto Maciel - A primeira coisa
deveria ser o combate implacável a corrupção o que não se viu e pelo contrário
tem parte de seus auxiliares sob suspeita o que não nos dá boa expectativa futura.
Sr.Isaías de Carvalho - Um governo liderado por um político claramente golpista e
trapaceiro não pode nos dar muita esperança. Caso Dilma Rousseff não seja
reconduzida ao cargo, espero ao menos que esses golpistas consigam equilibrar
as contas públicas. Para isso, não espero, mas tenho a expectativa de que vão
cortar benefícios sociais, trabalhistas, culturais e políticos dos grupos
historicamente perseguidos (que estavam finalmente tendo inserção nos governos
petistas) - negros, mulheres, LGBT e pobres em geral. Esse cenário é de
desesperança.
3- Uma das coisas mais
criticadas no governo petista foi a rendição do partido, que teoricamente
assiste a classe mais pobre, "o proletariado", à corrupção e às
grandes empresas. Você acha que num país movido pelo capital essa crítica faz
sentido?
Sr. Paulo Roberto Maciel - Qualquer país,
invariavelmente não pode ceder à corrupção e as empresas têm que evoluir sem a
promiscuidade de ilicitudes.
Sr.Isaías de Carvalho - A crítica faz sentido, mas é hipócrita ao mesmo tempo. Faz sentido, pois o PT foi levado ao poder com agrande esperança de que daria novos rumos éticos à política e à governança nacional, o que não ocorreu. A hipocrisia de quem faz essa crítica contundente é a de que estão todos em um sistema organizado para facilitar a corrupção, não cabendo o extermínio específico do PT e de seus ideais.
4- O modo de governo
socialista, mesmo parecendo mais justo, fracassou ou está perdendo força
política ao longo dos anos.
Você acha que no contexto político atual o modelo socialista vingaria
novamente?
Sr. Paulo Roberto
Maciel - O ponto de vista socialista é muito relativo, pois diversos países de
tradição da livre iniciativa por exemplo a Inglaterra além de outros nórdicos
tem a assistência médica pelo estado, o que é um ato socialista.
O modelo socialista
atualmente só teria condições de funcionar se se afastasse de um estado
totalitário e fosse uma social democracia de fato e não apenas na sigla de um
partido.
Sr. Isaías de Carvalho - Minha visão é a de que não houve, em qualquer parte do mundo,
a aplicação efetiva do modelo socialista. Cuba parece ser o caso que mais se
aproximaria. Certamente, o modelo petista não foi socialista, apesar do ideário
do partido defendê-lo. Também considero que tenha sido um governo de tendências
socialistas. O verdadeiro socialismo - aquele mais parecido com os preceitos de
Jesus Cristo (o personagem bíblico, não o das práticas cristãs das diversas
igrejas): não excluir os outros, dividir o pão, a não-agressão etc - não teria
como vingar em qualquer parte do mundo atual, uma vez que o ímpeto por
acumulação de riquezas é muito arraigado no imaginário geral.
5- O fracasso do modo
de governo socialista é atribuído à facilidade com a qual os governos são
corrompidos pelas grandes empresas. Você acha que isso pode ser combatido, ou é
algo relacionado ao instinto natural humano?
Sr. Paulo Roberto Maciel - Qualquer país pode ter seu governo corrompido,
porém se eles se perpetuam no poder e são colocados no poder pelo povo a culpa
essencialmente é de quem os elege.
Sr.Isaías de Carvalho - Acredito já ter respondido parcialmente a essa pergunta no
item anterior. De qualquer modo, não há muito de "natural" nesse
instinto humano de explorar os demais para enriquecer. São construções
históricas a partir de traços atávicos do "animal" homem que
poderiam, sim, ser modificados ao longo do tempo. Na verdade, a maior parte dos
países do mundo está preparada para dar saltos em direção a uma maior
socialização dos recursos, mas a força dos pequenos grupos detentores de
grandes fortunas e meios é muito grande. No momento, o combate a essa avareza e
a esse egoísmo humanos, ao menos no Brasil, está enfraquecido. Não creio que
viverei para ver a retomada do processo iniciado pelo PT nas duas últimas
décadas. Ainda assim, espero e luto.
6- Você acha que, sendo a desigualdade social algo antigo, isso ainda pode ser superado?
Sr. Paulo Roberto - Deve-se
lutar para diminuir ao máximo a desigualdade, mas a igualdade absoluta é utópica pois
existem diversos fatores que influenciam
- capacidade, inteligência, habilidade, esforço, ambição entre outros.
Gostaríamos de agradecer aos nossos entrevistados pela
colaboração.
Bia Figueiredo e Pedro Arão
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