terça-feira, 24 de maio de 2016

Brasil, capitalismo e desigualdade - Entrevista

      Em meio a nossa discussão político-social, por estarmos todos ainda em fase de adolescência, mas principalmente para mostrar opiniões de outros brasileiros que compreendem e vivem mais tempo esse mundo capitalista, se torna necessária uma entrevista. Nossa intenção foi elaborar perguntas relevantes, tanto para vocês, nossos leitores, quanto para incitar os entrevistados. Da mesma forma, a escolha dos entrevistados foi feita cuidadosamente, de acordo com sua disponibilidade e claro, sua ocupação profissional.
      Os nossos entrevistados foram o Sr. Paulo Roberto Maciel Teixeira, funcionário aposentado do Banco do Brasil e produtor agrícola, e o Sr. Isaías Francisco de Carvalho, professor de Literaturas Anglófonas na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Com essas considerações, segue a nossa entrevista. 


1-Você achou justo o impedimento da presidente? Por quê?

 Sr. Paulo Roberto Maciel - Não, pelas razões alegadas e muito menos pelos atores atuantes  para o desfecho: Cunha e Jucá notórios implicados em várias fases da lava jato e cúmplices de Temer que alçado pela segunda vez  ao cargo de vice, sem ter luz própria quis subir mais  um degrau participando de um acordo em que esqueceu a ética. Se fosse por outro motivo, por exemplo falta de controle com seus Ministros que em boa parte viraram as costas, poderia ter outra opinião.

Sr.Isaías de Carvalho - Claramente, foi injusto. A lei do impeachment não foi aplicada de modo juridicamente justo. Os crimes de que a presidenta é acusada não são de ordem para impeachment. Apesar de Dilma Roussef se encontrar impopular e de vivermos uma grave crise econômica, o presidencialismo não se presta a esse tipo de manobra golpista, em que a oposição, o legislativo, a grande mídia e alguns desvios do Judiciário orquestraram uma tomada de poder por via indireta. Após anos de sabotagem e enfraquecimento da presidenta, conseguiram encaminha o processo de impedimento, que ainda pode ser revertido, o que seria justo.

2- O que você espera do governo atual?

 Sr. Paulo Roberto Maciel - A primeira coisa deveria ser o combate implacável a corrupção o que não se viu e pelo contrário tem parte de seus auxiliares sob suspeita o que não nos dá boa expectativa futura.

Sr.Isaías de Carvalho - Um governo liderado por um político claramente golpista e trapaceiro não pode nos dar muita esperança. Caso Dilma Rousseff não seja reconduzida ao cargo, espero ao menos que esses golpistas consigam equilibrar as contas públicas. Para isso, não espero, mas tenho a expectativa de que vão cortar benefícios sociais, trabalhistas, culturais e políticos dos grupos historicamente perseguidos (que estavam finalmente tendo inserção nos governos petistas) - negros, mulheres, LGBT e pobres em geral. Esse cenário é de desesperança.

3- Uma das coisas mais criticadas no governo petista foi a rendição do partido, que teoricamente assiste a classe mais pobre, "o proletariado", à corrupção e às grandes empresas. Você acha que num país movido pelo capital essa crítica faz sentido?

 Sr. Paulo Roberto Maciel - Qualquer país, invariavelmente não pode ceder à corrupção e as empresas têm que evoluir sem a promiscuidade de ilicitudes.



Sr.Isaías de Carvalho - A crítica faz sentido, mas é hipócrita ao mesmo tempo. Faz sentido, pois o PT foi levado ao poder com agrande esperança de que daria novos rumos éticos à política e à governança nacional, o que não ocorreu. A hipocrisia de quem faz essa crítica contundente é a de que estão todos em um sistema organizado para facilitar a corrupção, não cabendo o extermínio específico do PT e de seus ideais.

 4- O modo de governo socialista, mesmo parecendo mais justo, fracassou ou está perdendo força política ao longo dos anos.
Você acha que no contexto político atual o modelo socialista vingaria novamente?


Sr. Paulo Roberto Maciel - O ponto de vista socialista é muito relativo, pois diversos países de tradição da livre iniciativa por exemplo a Inglaterra além de outros nórdicos tem a assistência médica pelo estado, o que é um ato socialista.
O modelo socialista atualmente só teria condições de funcionar se se afastasse de um estado totalitário e fosse uma social democracia de fato e não apenas na sigla de um partido.

Sr. Isaías de Carvalho - Minha visão é a de que não houve, em qualquer parte do mundo, a aplicação efetiva do modelo socialista. Cuba parece ser o caso que mais se aproximaria. Certamente, o modelo petista não foi socialista, apesar do ideário do partido defendê-lo. Também considero que tenha sido um governo de tendências socialistas. O verdadeiro socialismo - aquele mais parecido com os preceitos de Jesus Cristo (o personagem bíblico, não o das práticas cristãs das diversas igrejas): não excluir os outros, dividir o pão, a não-agressão etc - não teria como vingar em qualquer parte do mundo atual, uma vez que o ímpeto por acumulação de riquezas é muito arraigado no imaginário geral.

5- O fracasso do modo de governo socialista é atribuído à facilidade com a qual os governos são corrompidos pelas grandes empresas. Você acha que isso pode ser combatido, ou é algo relacionado ao instinto natural humano?

Sr. Paulo Roberto Maciel - Qualquer país pode ter seu governo corrompido, porém se eles se perpetuam no poder e são colocados no poder pelo povo a culpa essencialmente é de quem os elege.

Sr.Isaías de Carvalho - Acredito já ter respondido parcialmente a essa pergunta no item anterior. De qualquer modo, não há muito de "natural" nesse instinto humano de explorar os demais para enriquecer. São construções históricas a partir de traços atávicos do "animal" homem que poderiam, sim, ser modificados ao longo do tempo. Na verdade, a maior parte dos países do mundo está preparada para dar saltos em direção a uma maior socialização dos recursos, mas a força dos pequenos grupos detentores de grandes fortunas e meios é muito grande. No momento, o combate a essa avareza e a esse egoísmo humanos, ao menos no Brasil, está enfraquecido. Não creio que viverei para ver a retomada do processo iniciado pelo PT nas duas últimas décadas. Ainda assim, espero e luto.

 6- Você acha que, sendo a desigualdade social algo antigo, isso ainda pode ser superado?
Sr. Paulo Roberto - Deve-se lutar para diminuir ao máximo a desigualdade,  mas a igualdade absoluta é utópica pois existem diversos fatores que influenciam  - capacidade, inteligência, habilidade, esforço, ambição entre outros.

Gostaríamos de agradecer aos nossos entrevistados pela colaboração.

Bia Figueiredo e Pedro Arão

Nenhum comentário:

Postar um comentário