As ideias de direito do
trabalhador, a luta por igualdade social e o enfrentamento de classes em si,
são fatos muito antigos e vieram ganhando cada vez mais espaço com o passar dos
anos. Isso pode ter sua influência observada em acontecimentos importantes,
como as Revoluções Industriais (1760-1840) e a Revolução Francesa (1789-1799). Mesmo assim,
esses movimentos vieram de forma tardia, se nos sujeitarmos a observar o quão
antiga é a situação de desigualdade, a simples existência de classes
dominantes. Dessa forma, a parte mais intrigante dessa situação não é seu
desenvolvimento ao longo da história, mas sim suas origens.
Antes da existência das linguagens faladas e da organização em
sociedade, quando o ser humano ainda não tinha consciência de sua possibilidade
de aprendizagem (ou ainda não havia a desenvolvido), possuíamos algumas
atividades básicas, como a alimentação e a reprodução, ou mais especificamente,
visávamos a sobrevivência. Lutávamos uns com os outros, se necessário,
matávamos pela vontade de viver, quase sem consciência do fato;
instintivamente. Alguns de nós, claro, eram mais fortes. Alguns de nós eram
mais temidos, não por sua conta no banco ou por seu cargo político, mas por suas
habilidades de sobrevivência. Não
seriam, então, as classes sociais provenientes disso?
O principal problema dessa ideia de as classes e assim, a desigualdade,
serem provenientes da primitiva luta pela sobrevivência seria o fato de ignorar
o uso de moeda, e a ideia de compra e venda de produtos (e toda a consequente
ideia de propaganda e manipulação da mídia) que teriam sido algo mais recente
se comparado com os primórdios da raça humana e mesmo assim, muito presente
nessa discussão de realidade social. Mas
na verdade, toda essas características capitalistas, e o capitalismo em si,
seriam consequências da definição de classes sociais.
Se realocarmos a história da luta de classes de acordo com essa teoria,
conseguiremos enxergar a realidade atual de uma forma um pouco diferente. A
opressão da burguesia deixa de parecer algo tão maldoso e voluntário, recebendo
um tom mais instintivo, assim como a posição do proletariado deixa de parecer
tão absurda. Não são apenas os ricos contra os pobres, mas também os mais
fortes contra os mais fracos ( mesmo que a posição do forte e do fraco seja
hoje, muito mais relativa ao poder econômico do que a força física). Por outro
lado, esse é um quadro com o qual devemos tomar muito cuidado.
A desigualdade social,
independente das suposições sobre suas origens, precisa ser combatida. Ela
talvez venha de algo primitivo, que existia num homem igualmente primitivo.
Mas com a evolução da nossa espécie, nós desenvolvemos e abraçamos a
desigualdade, em vez de tentar nos afastar dela. Durante séculos e séculos,
criamos outras formas de representá-la. Nos acostumamos a oprimir ou a ser
oprimidos, só percebendo o tamanho do nosso erro mais recentemente.
Se eu tive a chance, ou mais que
isso, o privilégio de nascer em uma família que não só me ama, mas também
possui condições financeiras (em parte por ser dona de meio de produção), para
que eu possa estudar num bom colégio particular (que, infelizmente, tem ensino
superior ao dos colégios públicos em nosso país), possuir um plano de saúde e
comprar as coisas das quais necessito, que ótimo para mim. Mas eu, e todos os
outros como eu, deveríamos lutar pelo fim da miséria, pelas melhorias dos
sistemas públicos de saúde e educação e pela diminuição da corrupção em nosso
governo. Do contrário, ao nos aquietar diante dessas situações e até concordar
com elas, estamos negando a outras crianças e adolescentes a qualidade de vida
e as possibilidades de futuro que temos.
Justificar os maus atos com a
história, então, seria errado. Assim como ignorar todo o árduo processo de luta
pelos direitos do trabalhador. O que devemos fazer, então, é aprender sobre a desigualdade, sobre o
capitalismo, sobre o socialismo, e mais que isso, criar uma opinião e, assim, lutar
pelos nossos ideais, visando o benefício próprio e também o avanço da nossa sociedade
de forma mais igualitária. Entender que “a história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes” muda a visão que temos da sociedade e de nossa própria existência.
Bia Figueiredo